Em algumas cidades do interior o combate à dengue ganhou uma ajuda natural: o uso de uma planta chamada crotalária. A iniciativa começou em outubro do ano passado na cidade de Monte Aprazível, localizada a 489 km de São Paulo, e já se espalha por outras regiões. Mas não há comprovação científica da eficácia dessa medida contra o mosquito da dengue.
Teoricamente, a flor amarela atrai as libélulas que, por sua vez, são predadores naturais de alguns insetos, como o aedes aegypti, agente transmissor da dengue. Além disso, as libélulas também colocam os ovos em água limpa e parada e suas larvas se alimentam de outros tipos de larvas, inclusive as do mosquito da dengue, eliminando possíveis transmissores.
Antônio Salatino, professor doutor do instituto de botânica da USP, afirma que desconhece a atração de libélulas pela cor amarela, mas que é possível que elas sejam atraídas pela crotalária. “Vários insetos são sensíveis a cores. As abelhas são bem sensíveis à cor amarela e ao ultravioleta. O beija-flor é sensível ao vermelho. As borboletas ao roxo. Não tenho conhecimento sobre a atração de libélulas por cores, porque geralmente esse fator acontece com insetos polinizadores, o que não é o caso da libélula”, declarou.
Ouça abaixo a explicação do professor Salatino sobre a crotalária:
Para o mestre em biologia pela Unifesp Rodrigo Antonio Parra, a explicação para a atração das libélulas pode ser outra. “As libélulas são carnívoras e se alimentam de outros insetos. A crotalária pode atrair esses outros tipos de insetos e a libélula se aproxima para se alimentar e se reproduzir”, explicou.
O responsável por levar a ideia para o município de Monte Aprazível foi o vereador João Célio Ferreira (PTB), também proprietário de uma das floriculturas mais antigas da cidade. Ele conta que descobriu a função da planta no combate à dengue realizando pesquisas e leituras para estudar a flora brasileira.
“Conheci por que tenho floricultura e sempre faço estudos. Primeiro descobri que a crotalária em grandes plantações é usada para oxigenação da terra, em três dias ela já está nascendo, cresce rápido e atinge até 1,5 metros. Depois descobri que ela podia ajudar a combater a dengue”, afirma Ferreira.
A ideia da utilização foi então levada para Câmara Municipal da cidade, onde foi votada e aprovada. A partir daí começou-se a distribuição gratuita para os moradores da cidade. De acordo com a assessora municipal de saúde, Claudia Maset, mesmo sem comprovação científica, a população aderiu bem à campanha “Plante uma Crotalária”.
Claudia relata que a distribuição foi feita em 8.000 residências da cidade pelos agentes de vetores da Sucen (Superintendência de Controle de Endemias), que já realizavam visitas periodicamente para verificar a existência de criadouros do mosquito na cidade.
A professora Marli Cristina do Amaral aprovou a iniciativa da prefeitura local. “Acredito que a planta é como um reforço. Além disso, é muito bonita. Acho que tudo que der pra fazer para evitar o a doença é válido”.
A ação de Monte Aprazível custou cerca de R$ 750. Foram comprados 250 quilos da semente, que continuam sendo distribuídas, mas agora vêm das primeiras flores plantadas.
A cidade vizinha, São José do Rio Preto, também adotou a medida em 19 março deste ano com algumas mudanças. Após ganhar as sementes da planta, a prefeitura decidiu plantar e doá-las já como mudas. Foram distribuídas aproximadamente 3.000 mudas da crotalária.
A Secretaria Municipal de Saúde de Rio Preto explicou que “as mudas são oferecidas, mas ninguém é obrigado a plantar, independente disso o trabalho de orientação continua, os agentes visitam casa por casa, explicam o que os moradores devem fazer para evitar a dengue, e quais os sintomas da doença”.
Só em 2010, São José do Rio Preto teve 7.903 casos confirmados da dengue - 41 deles são de febre hemorrágica e 54 casos são de dengue com complicações. De acordo com o Instituto Oswaldo Cruz, o governo federal gasta em média R$ 1,2 bilhão por ano com a doença.
Em nenhuma das duas cidades foram dispensadas outras ações de combate da dengue. Foz do Iguaçu e Dourados também já visitaram Monte Aprazível para estudar a implantação do projeto nos municípios.
*Esta reportagem foi produzida por Ana Paula Machado, Helena Capraro, Mariana Francischini, Semayat Oliveira e Thais Rebequi, alunas do curso de jornalismo da Universidade Metodista de SP para o portal RROnline
A prefeitura de Itabuna poderia providenciar um projeto neste sentido, no intuito de plantar e distribuir a semente da crotalária em toda a cidade.
0 comentários:
Postar um comentário